Críticas Adagio Sostenuto



Revista American Center for Artists
Site: www.americancenter.org/
“Adagio Sostenuto”,
por Eduardo Correia e James P. White


Pompeu Aguiar, produtor e diretor de Adagio Sostenuto ganhou o prêmio de melhor roteiro no 1º Festival de Cinema Brasileiro em Los Angeles. Ele diz que o seu novo filme, um filme urbano, faz parte do cinema de resistência, um movimento para proteger e desenvolver o verdadeiro cinema, que vem da ópera. O cinema deriva de Wagner, diz, adicionando que não é apenas sobre a trama, mas sobre o melodrama e é essencialmente dependente da música. Aguiar acrescenta que ele vai à ópera para ver cinema. Chama seu filme de uma ópera de câmara. Estudou música por muitos anos. O filme é em forma sonata, diz ele. É cuidadosamente construído e a música e os diálogos vieram primeiro, assegurando que os diálogos correspondessem exatamente à música.

A experiência de ver Adagio Sostenuto é tão marcante como estar assistindo a uma ópera. A experiência visual rica é admiravelmente alcançada por Antonio Luiz Mendes. Há duas pinturas de Vermeer e duas de Rembrandt incluídas no filme, que acompanham a beleza da música de Liszt, Debussy, Beethoven, Schubert, Ravel, Cohen e Procol Harum. A música traz necessidades emocionais para serem expressas pelos atores e a representação também lhe faz exigências.

O filme mostra quatro cenas da guerra de Okinawa e a última é o desembarque em Saipan, depois do movimento reverso da Via Láctea. Estas cenas têm analogia com a violência no Rio de Janeiro. A história do filme é sobre um casal intelectual de classe média (Anna Maria e José Morelli), que são muito apaixonados, mas José é assassinado quando para em um sinal de trânsito no dia 8 de julho. Ele é baleado durante um assalto.

A cena de abertura do filme é impressionante: ela retrata um sol dentro de uma galáxia de estrelas: um momento celestial de grande impacto. Aguiar diz que esta cena foi gerada por computador. A fotografia é maravilhosa no filme inteiro. Uma cena na praia mostra ondas que alcançam a areia, ondulando num vai-e-vem constante, em perfeita harmonia com a música. Mais tarde, uma casa construída na frente de um lago e refletida na água, é também tão bonita que retrata o clima da música. Uma cena particular, quando Anna Maria está debaixo do chuveiro, atrás de uma parede de vidro é sutilmente filmada. Ela está chorando atrás do vidro e ouve-se a água do chuveiro.

O filme inteiro é fascinante porque a história envolve amor, violência e arte e é reforçada pela música. Ele mostra o sofrimento e o pensamento caótico de uma mulher que perdeu o marido que tanto amava. A situação desta intelectual recentemente enviuvada é apresentada vividamente. Ela vive em completo contraste com a violência e o mundo ameaçador em sua volta. É uma diretora de cinema que não aceita a morte do marido (um roteirista) porque não estava preparada para isto. Ele morreu de repente. O filme que estavam fazendo era sobre dois velhos professores de história aposentados cujas vidas estavam sendo esmiuçadas. O cenário é uma praia isolada. Os historiadores estão cansados de viver as suas vidas diminutas e estão preparados para a morte. Anna Maria continua o filme e o termina. Ela quer se matar porque pensa que se o fizer, reencontrará José. No momento mais tenso do filme, Anna Maria coloca uma arma na cabeça, mas não tem a coragem de puxar o gatilho. Este caso mostra a realidade no Rio de Janeiro porque muita gente foi assassinada por ladrões nas ruas e por balas perdidas. Esta violência ameaça a vida interior rica de pessoas criativas que se tornam vítimas.

Dedina Bernardelli (Anna Maria), a protagonista feminina, é perfeita. Ela mostra o sofrimento desta mulher em inúmeras formas. Em uma cena chora primeiro com um olho e depois com o outro, com os dois olhos abertos. Ela também sofre porque adiou uma viagem às ilhas onde o seu marido queria ir. Repetidamente, ela retrata realisticamente a dor de Anna Maria e o seu pensamento conturbado.

O filme é diferente e traz uma nova idéia sobre filmes. É incomum a forma com que as cenas são filmadas, como são relacionadas e como se misturam com música. O filme é particularmente atraente porque mostra uma história do amor eterno e transmite a importância da união entre um casal. Aguiar dirige com uma singularidade que requer atenção e paciência da audiência, mas lhe retribui com uma recompensa poderosa. O filme tem uma beleza estrondosa, embora seja difícil e exigente. A mensagem é forte; a música é maravilhosa, a coerência abstrata é notável. As cenas são muito bem organizadas. Aguiar deve ser cumprimentado por criar um filme marcante que se destaca por sua própria forma. Estamos esperando o próximo.


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